quarta-feira, 25 de maio de 2011

As Amoras e a Vida

Hoje abri uma gaveta com incensos e, o aroma que resultou da mistura entre eles, recordou-me das amoras-do-mato que colhia na minha infância. Rubus rosaefolius Rosaceae, morango silvestre ou amoras-do-mato. Frutificavam às centenas em terrenos baldios e em clareiras na mata.

Uma imagem que guardo é a de uma casa em ruínas. Só restavam as paredes de alvenaria e uma escadaria que conduzia ao alpendre, junto à fachada. A tal casa não possuía mais telhado, nem assoalho e ficava bem no centro de uma dessas clareiras. Dentro dela as amoras-do-mato cresciam até preencher todo espaço entre as paredes.

Do alpendre eu observava as frutas vermelhas, dispersas no emaranhado de arbustos. Os raios de sol que entravam oblíquos pelas aberturas da construção rajavam tudo de amarelo. Apesar da grande concentração de frutas, colhê-las ali dentro era muito penoso. Era preciso descer do alpendre para o nível do solo no interior da casa, onde ficávamos comprimidos contra os espinhos das amoreiras. De maneira que, enquanto as frutas que cresciam ao ar livre estavam disponíveis, aquelas do interior da casa ficavam para outra ocasião.

Pensando naqueles dias, uma metáfora me vem à mente. As frutas espalhadas pela mata, apesar de exigirem maior tempo de busca, ofereciam-se de maneira muito agradável e generosa. Por outro lado, a profusão de frutas confinadas na casa era um convite tentador, mas para colhê-las era necessário um grande sacrifício. Acredito que essa dinâmica seja valida para tudo que buscamos na vida. Devemos sempre avaliar se os sacrifícios exigidos pela ambição são justificáveis.

Para finalizar, a Rubus rosaefolius Rosaceae possui frutos de sabor incomparável, com as quais minha avó preparava o melhor suco que já provei.

Um comentário:

  1. Cara, eu adoro este conto com perfume de crônica! Há muito de você nele, e quase posso me transportar para a casa em ruínas com as frutas. A imagem que imagino é muito bonita!

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