Fronteiras Sem Memória
quarta-feira, 15 de agosto de 2012
Cotas
O sistema de cotas é perverso no sentido de transformar em mérito e votos uma medida paliativa e desmanteladora da educação formal em nosso país. O que pode ser bom a curto prazo estará enraizando o assistencialismo institucional em detrimento de melhorias no ensino fundamental, básico e técnico, que deveriam ser o real foco da questão. O porquê da negligência todos conhecemos, é mexer em ninho de vespas, é melhorar salários e condições de formação dos professores, é investir em infra-estrutura, é rever paradigmas. Tudo isso, além de caro e desafiador, traz resultados a médio/longo prazo, ou seja, não dá voto. Aliás, um povo com boa educação, senso crítico, é um povo que vota melhor e exige seus direitos - isso é ruim sob a ótica do poder. Ingressar em uma universidade não garante a vida de ninguém. É uma questão de realização pessoal, de desenvolvimento humano, mas que deveria ser um passo consciente, não induzido. Vivemos em um país com milhões de diplomados que mal redigem uma carta, grande parte trabalhando fora de sua área em consequencia do despreparo, muitos desempregados por julgarem-se inadequados a outras atividades de menor status; por outro lado, temos soldadores industriais com salário básico de R$ 5.000,00 (o salário de 5 professores). Eu não acho que o soldador deveria ganhar menos, mas a distorção é gritante, não? Me chamem de elitista, refutem meus argumentos, eu gostaria de ver alguma luz no fim desse túnel, eu gostaria muito de acreditar num futuro melhor para esse país.
segunda-feira, 22 de agosto de 2011
quarta-feira, 25 de maio de 2011
As Amoras e a Vida
Hoje abri uma gaveta com incensos e, o aroma que resultou da mistura entre eles, recordou-me das amoras-do-mato que colhia na minha infância. Rubus rosaefolius Rosaceae, morango silvestre ou amoras-do-mato. Frutificavam às centenas em terrenos baldios e em clareiras na mata.
Uma imagem que guardo é a de uma casa em ruínas. Só restavam as paredes de alvenaria e uma escadaria que conduzia ao alpendre, junto à fachada. A tal casa não possuía mais telhado, nem assoalho e ficava bem no centro de uma dessas clareiras. Dentro dela as amoras-do-mato cresciam até preencher todo espaço entre as paredes.
Do alpendre eu observava as frutas vermelhas, dispersas no emaranhado de arbustos. Os raios de sol que entravam oblíquos pelas aberturas da construção rajavam tudo de amarelo. Apesar da grande concentração de frutas, colhê-las ali dentro era muito penoso. Era preciso descer do alpendre para o nível do solo no interior da casa, onde ficávamos comprimidos contra os espinhos das amoreiras. De maneira que, enquanto as frutas que cresciam ao ar livre estavam disponíveis, aquelas do interior da casa ficavam para outra ocasião.
Pensando naqueles dias, uma metáfora me vem à mente. As frutas espalhadas pela mata, apesar de exigirem maior tempo de busca, ofereciam-se de maneira muito agradável e generosa. Por outro lado, a profusão de frutas confinadas na casa era um convite tentador, mas para colhê-las era necessário um grande sacrifício. Acredito que essa dinâmica seja valida para tudo que buscamos na vida. Devemos sempre avaliar se os sacrifícios exigidos pela ambição são justificáveis.
Para finalizar, a Rubus rosaefolius Rosaceae possui frutos de sabor incomparável, com as quais minha avó preparava o melhor suco que já provei.
Uma imagem que guardo é a de uma casa em ruínas. Só restavam as paredes de alvenaria e uma escadaria que conduzia ao alpendre, junto à fachada. A tal casa não possuía mais telhado, nem assoalho e ficava bem no centro de uma dessas clareiras. Dentro dela as amoras-do-mato cresciam até preencher todo espaço entre as paredes.
Do alpendre eu observava as frutas vermelhas, dispersas no emaranhado de arbustos. Os raios de sol que entravam oblíquos pelas aberturas da construção rajavam tudo de amarelo. Apesar da grande concentração de frutas, colhê-las ali dentro era muito penoso. Era preciso descer do alpendre para o nível do solo no interior da casa, onde ficávamos comprimidos contra os espinhos das amoreiras. De maneira que, enquanto as frutas que cresciam ao ar livre estavam disponíveis, aquelas do interior da casa ficavam para outra ocasião.
Pensando naqueles dias, uma metáfora me vem à mente. As frutas espalhadas pela mata, apesar de exigirem maior tempo de busca, ofereciam-se de maneira muito agradável e generosa. Por outro lado, a profusão de frutas confinadas na casa era um convite tentador, mas para colhê-las era necessário um grande sacrifício. Acredito que essa dinâmica seja valida para tudo que buscamos na vida. Devemos sempre avaliar se os sacrifícios exigidos pela ambição são justificáveis.
Para finalizar, a Rubus rosaefolius Rosaceae possui frutos de sabor incomparável, com as quais minha avó preparava o melhor suco que já provei.
quarta-feira, 19 de janeiro de 2011
O Primeiro
Abri os olhos e deparei-me com números desfavoráveis sobre a cômoda, 18:20 em vermelho - vou perder a condução. Às dezenove horas e trinta minutos começa meu turno como vigia na fábrica, mas o trabalho fica do outro lado da cidade. Ainda tonto de sono peguei o dinheiro da passagem, um casaco e botei a cara na rua. É inverno, está escuro, frio e garoando em Curitiba, mas a promessa de uma longa noite não me abala. No bolso do casaco achei uma barra de chocolate, alívio para quem saiu sem comer.
As ruas da vizinhança estão escuras pela ação vândala da molecada, que faz tiro ao alvo com as lâmpadas da iluminação pública. Isso me impede de controlar o tempo, meu relógio não tem luz no visor. Para ganhar alguns minutos opto por cortar caminho pela trilha estreita entre o córrego e o muro da escola. O atalho conduz direto a uma via marginal da BR, onde o ônibus passa. Arrependo-me já nos primeiros metros, a calça respingada de lama e o tênis então, melhor nem lembrar que era branco. Mas é aquela máxima, quando a cabeça não pensa o corpo padece, não é assim?
Do meio do trajeto já posso ver o “orelhão” que fica no fim da trilha, bem perto do ponto de ônibus. Começo uma subida escorregadia, principalmente pela lama agarrada ao solado – Tomara que a chuva tenha atrasado o veículo. Depois de tanto tempo para conseguir uma carteira assinada, não posso perder o emprego vacilando dessa maneira.
Faltando menos de dez metros para alcançar a calçada um sujeito alto, magro e fedorento surge com uma arma. Não consigo ver seu rosto, só um vulto, a iluminação da rodovia incide em suas costas. Estou entre um muro de três metros e um córrego transbordando de água barrenta, atrás de mim uns 50 metros de caminho lamacento até o início da trilha.
O sujeito me aborda : “Passa a grana e o tênis, rápido!” Tento me fazer de desentendido, me espremo entre ele e o muro buscando me esquivar. Ele pressiona o cano contra minha testa, está nitidamente transtornado pela droga, cheio de trejeitos.
Trêmulo e exitante, eu me abaixo para retirar o tênis e é nesse instante que um caminhão passando sob o viaduto nos ilumina com um facho certeiro de seus faróis. Por impulso eu gritei : “Polícia!”, o sujeito virou-se, talvez para ter certeza de que se tratava do mais velho dos truques - distrair o oponente. O caminhão fez a volta e seguiu seu caminho enquanto eu pulava sobre o assaltante. Um braço em volta do corpo para me apoiar e com a outra mão eu puxei o rosto dele pra trás violentamente. Fiz isso tão rápida e seguramente que parecia ensaiado, premeditado. O pescoço do meliante fez um “crec” e ele desabou, o corpo no chão com a cabeça olhando para as costas. Tal qual uma coruja – pensei.
Eu rolei o sujeito até a beira do rio e a enxurrada o carregou como se fosse um tronco podre. Também chutei o revolver para a água. Poucos segundos para dizimar qualquer evidência - era como se nada tivesse ocorrido. Cheguei ao ponto em tempo de alcançar o ônibus. Quando passei pela catraca, olhei para o fundo do corredor e lá encontrei Mariana, sempre linda. Quando seus olhos encontraram os meus, pela primeira vez não se esquivaram, ao contrário, ganhei meu primeiro sorriso.
As ruas da vizinhança estão escuras pela ação vândala da molecada, que faz tiro ao alvo com as lâmpadas da iluminação pública. Isso me impede de controlar o tempo, meu relógio não tem luz no visor. Para ganhar alguns minutos opto por cortar caminho pela trilha estreita entre o córrego e o muro da escola. O atalho conduz direto a uma via marginal da BR, onde o ônibus passa. Arrependo-me já nos primeiros metros, a calça respingada de lama e o tênis então, melhor nem lembrar que era branco. Mas é aquela máxima, quando a cabeça não pensa o corpo padece, não é assim?
Do meio do trajeto já posso ver o “orelhão” que fica no fim da trilha, bem perto do ponto de ônibus. Começo uma subida escorregadia, principalmente pela lama agarrada ao solado – Tomara que a chuva tenha atrasado o veículo. Depois de tanto tempo para conseguir uma carteira assinada, não posso perder o emprego vacilando dessa maneira.
Faltando menos de dez metros para alcançar a calçada um sujeito alto, magro e fedorento surge com uma arma. Não consigo ver seu rosto, só um vulto, a iluminação da rodovia incide em suas costas. Estou entre um muro de três metros e um córrego transbordando de água barrenta, atrás de mim uns 50 metros de caminho lamacento até o início da trilha.
O sujeito me aborda : “Passa a grana e o tênis, rápido!” Tento me fazer de desentendido, me espremo entre ele e o muro buscando me esquivar. Ele pressiona o cano contra minha testa, está nitidamente transtornado pela droga, cheio de trejeitos.
Trêmulo e exitante, eu me abaixo para retirar o tênis e é nesse instante que um caminhão passando sob o viaduto nos ilumina com um facho certeiro de seus faróis. Por impulso eu gritei : “Polícia!”, o sujeito virou-se, talvez para ter certeza de que se tratava do mais velho dos truques - distrair o oponente. O caminhão fez a volta e seguiu seu caminho enquanto eu pulava sobre o assaltante. Um braço em volta do corpo para me apoiar e com a outra mão eu puxei o rosto dele pra trás violentamente. Fiz isso tão rápida e seguramente que parecia ensaiado, premeditado. O pescoço do meliante fez um “crec” e ele desabou, o corpo no chão com a cabeça olhando para as costas. Tal qual uma coruja – pensei.
Eu rolei o sujeito até a beira do rio e a enxurrada o carregou como se fosse um tronco podre. Também chutei o revolver para a água. Poucos segundos para dizimar qualquer evidência - era como se nada tivesse ocorrido. Cheguei ao ponto em tempo de alcançar o ônibus. Quando passei pela catraca, olhei para o fundo do corredor e lá encontrei Mariana, sempre linda. Quando seus olhos encontraram os meus, pela primeira vez não se esquivaram, ao contrário, ganhei meu primeiro sorriso.
segunda-feira, 20 de setembro de 2010
Propaganda é a Alma da Negociata
No início propaganda era uma maneira de divulgar um produto ou serviço, com o simples e justo objetivo de aumentar sua demanda. Com a expansão do mercado os instrumentos de marketing se difundiram e os consumidores, munidos de opções, passaram a ter uma nova relação com o ato de consumir. Antes, consumir era um caminho curto, da necessidade, ou desejo, até o balcão de um estabelecimento tradicional do bairro. Agora, consumir envolve questões de status social, análises de custo/benefício, oferta e comodidade, questões estéticas, filosóficas, etc.
Nesse contexto competitivo foi fácil perceber que um letreiro descomunal e colorido fazia vender mais que a concorrência, mesmo que a qualidade e preço dos produtos ofertados fossem os mesmos. Então, o inevitável passo seguinte foi a criação de atributos fantásticos, somente oferecidos naquele determinado estabelecimento, ou por aquele determinado produto. A folclórica propaganda enganosa, que começou inocente, falando que o meu branco é mais branco, que minha vitamina é mais vitaminada e por aí foi.
Assim chegamos a esse ponto de “chora menos quem pode mais”, onde produtos de qualidade inferior, achatamento de salários, caixas dois, contrabando, propina, estelionato, extorsão e latrocínio são meros meios para um fim - o santo lucro.
Quando ligo a televisão e vejo a “Propaganda Eleitoral Gratuita” eu penso - será que ninguém enxerga o óbvio?!
A tela da TV aceita tudo, se o fulano botar capa e ficar na frente de um “chroma key” ele voa. Ele pode falar que pagou a dívida externa, pode falar que a saúde está à beira da perfeição, ele pode defender a qualidade do ensino público com toda convicção do mundo. Ele inclusive não precisa falar, porque um locutor de voz sedutora o fará de maneira muito mais persuasiva e eficaz. A isso, juntam-se imagens deslumbrantes de nossa nação continental, vídeos de pessoas visivelmente humildes, mas felizes, músicas elaboradas para tocar o coração das massas...e voilá! Até eu ,que desdenho o(a) candidato(a), me pego conjeturando sobre votar nele(a).
Produções Hollywoodianas, investimentos exorbitantes, para vender o mesmo peixe que você compra na esquina, o mesmíssimo peixe. Quer dizer, sabemos que o objetivo real não é vender o peixe, mas sim superar a concorrência - e a concorrência se derruba na base do marketing, da propaganda, da chinelada.
Quem é o melhor, quem é o pior? Podemos divergir respondendo essa questão. Quem tem a melhor propaganda? Essa é fácil responder, é aquele que está ganhando nas pesquisas. As exceções existem, mas a regra em geral é essa, óbvia e cretina. A questão vai tão longe que as políticas públicas são adotadas por critérios "marketeiros". Investe-se no que se pode reverter em imagem, popularidade – voto.
Toneladas de dinheiro em prol de um ideal de servir o país? Que servidão é essa? Alianças escusas, favores velados, conchavos.
Eu defendo uma propaganda política em que o candidato apresente suas idéias encarando a câmera, ilustrando suas propostas de maneira a se fazer entender, não esse atacado de idéias vendáveis que temos hoje. A justiça eleitoral deveria apregoar o currículo dos candidatos em locais públicos, ao acesso dos que mais precisam dessa informação. É uma questão de coerência, não iniciar um mandado endividado e enrabichado. É um desperdício de recursos, é uma covardia e uma arbitrariedade com o futuro do país. E há quem defenda essa prática como uma maneira de segurar o eleitor na frente da TV, porque horário político não tem que ser enfadonho.
Enfadonho é o nosso fardo!
Nesse contexto competitivo foi fácil perceber que um letreiro descomunal e colorido fazia vender mais que a concorrência, mesmo que a qualidade e preço dos produtos ofertados fossem os mesmos. Então, o inevitável passo seguinte foi a criação de atributos fantásticos, somente oferecidos naquele determinado estabelecimento, ou por aquele determinado produto. A folclórica propaganda enganosa, que começou inocente, falando que o meu branco é mais branco, que minha vitamina é mais vitaminada e por aí foi.
Assim chegamos a esse ponto de “chora menos quem pode mais”, onde produtos de qualidade inferior, achatamento de salários, caixas dois, contrabando, propina, estelionato, extorsão e latrocínio são meros meios para um fim - o santo lucro.
Quando ligo a televisão e vejo a “Propaganda Eleitoral Gratuita” eu penso - será que ninguém enxerga o óbvio?!
A tela da TV aceita tudo, se o fulano botar capa e ficar na frente de um “chroma key” ele voa. Ele pode falar que pagou a dívida externa, pode falar que a saúde está à beira da perfeição, ele pode defender a qualidade do ensino público com toda convicção do mundo. Ele inclusive não precisa falar, porque um locutor de voz sedutora o fará de maneira muito mais persuasiva e eficaz. A isso, juntam-se imagens deslumbrantes de nossa nação continental, vídeos de pessoas visivelmente humildes, mas felizes, músicas elaboradas para tocar o coração das massas...e voilá! Até eu ,que desdenho o(a) candidato(a), me pego conjeturando sobre votar nele(a).
Produções Hollywoodianas, investimentos exorbitantes, para vender o mesmo peixe que você compra na esquina, o mesmíssimo peixe. Quer dizer, sabemos que o objetivo real não é vender o peixe, mas sim superar a concorrência - e a concorrência se derruba na base do marketing, da propaganda, da chinelada.
Quem é o melhor, quem é o pior? Podemos divergir respondendo essa questão. Quem tem a melhor propaganda? Essa é fácil responder, é aquele que está ganhando nas pesquisas. As exceções existem, mas a regra em geral é essa, óbvia e cretina. A questão vai tão longe que as políticas públicas são adotadas por critérios "marketeiros". Investe-se no que se pode reverter em imagem, popularidade – voto.
Toneladas de dinheiro em prol de um ideal de servir o país? Que servidão é essa? Alianças escusas, favores velados, conchavos.
Eu defendo uma propaganda política em que o candidato apresente suas idéias encarando a câmera, ilustrando suas propostas de maneira a se fazer entender, não esse atacado de idéias vendáveis que temos hoje. A justiça eleitoral deveria apregoar o currículo dos candidatos em locais públicos, ao acesso dos que mais precisam dessa informação. É uma questão de coerência, não iniciar um mandado endividado e enrabichado. É um desperdício de recursos, é uma covardia e uma arbitrariedade com o futuro do país. E há quem defenda essa prática como uma maneira de segurar o eleitor na frente da TV, porque horário político não tem que ser enfadonho.
Enfadonho é o nosso fardo!
sábado, 21 de agosto de 2010
O Feio
Feiúra é a face do mal que agride o coração pelos olhos, afogando o peito em amargo desgosto. O feio seca a vida, envenena o espírito e dissolve a dignidade com seu espectro corrosivo.
O Feio é insuportável, por isso muitas vezes se finge de belo. Não adianta, carrega incrustado em si o odor fétido dos horrores de guerra, da fome, da doença e todo tipo de miséria humana.
Muitos definem como feias certas coisas banais, mas feios mesmo são os frutos da alma podre, da torpeza.
Dostoievski escreveu que a beleza salvará o mundo. Então, busquemos a beleza - em tudo.
quarta-feira, 11 de agosto de 2010
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